terça-feira, 14 de agosto de 2012

Crenças e devoções

"É o espaço aberto que parece não ter fim. São as cores e os cheiros que brotam da terra. É a inconfundível traça da arquitectura rural, presente nos "montes” das grandes herdades, no casario mais antigo das cidades, vilas e aldeias ou nas ermidas que pintam de branco o alto dos cabeços. É o que se lê nas formas de ser e de fazer, nas artes que se conservam e se renovam, na tradição que se mantém e se recria, no "cante” que, com alma e coração, só os alentejanos sabem cantar. "
 

Ligadas a cultos Marianos ou a devoções aos Santos, a quem se agradecem benesses ou se pedem graças, as ermidas são um elemento fundamental da ruralidade e da própria arquitectura tradicional. São quase todas datáveis dos sécs. XVI-XVIII, embora existam preciosidades de tempos anteriores. Costumam ser constituídas por três partes: a capela-mor, com a cúpula em abóbada, a nave central e, no exterior, um alpendre coberto, arejado e ladeado de bancos para descanso dos peregrinos. Localizam-se ora dentro ora fora das aldeias, no alto dos cabeços ou paredes-meias com "montes” isolados. Algumas possuem interessantes revestimentos de azulejos, pinturas a fresco e extraordinárias colecções de ex-votos. São sempre impecavelmente caiadas para os dias de festa em honra da Senhora ou do Santo protector. Nesses dias, a sua abertura é garantida. Mas são quase todas tão bonitas na sua traça genuinamente rústica que, mesmo fechadas, vale a pena ir vê-las.


Onde há festa, há também feira. E, em certos casos, o movimento de ambas atingiu tais proporções que a ermida se tornou pequena para receber tantos peregrinos e originou a construção de grandes santuários.


Entre ermidas e santuários, quais não se devem perder?
São tantos e tão interessantes que uma vez mais se impõe uma selecção. Seguramente injusta e, de novo, assumida como um simples ponto de partida. Anexa-se a cada uma o dia da sua festa anual.


No Norte Alentejano, veja a granítica e bucólica Senhora da Redonda, perto de Alpalhão (2ª feira de Páscoa); a Senhora da Lapa, com uma vista panorâmica soberba, em Besteiros, Portalegre (Setembro); a Senhora de Entre Águas, em Benavila (último fim de semana de Julho); e o Santuário do Senhor Jesus da Piedade, em Elvas, onde se expõe uma importante colecção de ex-votos (20-27 de Setembro, romaria e feira de S. Mateus).


No Alentejo Central, situam-se quatro importantes santuários de grande valor patrimonial: N.ª S.ª das Brotas, em Brotas, Mora, enquadrado pelo antigo casario das confrarias, excelente exemplo de arquitectura rural (2º fim de semana de Agosto); N.ª S.ª do Monte do Carmo, em Azaruja, forrada com mais de 1500 ex-votos, hoje integrada num Hotel Rural instalado nas antigas casas dos peregrinos (2º domingo de Setembro); N.ª S.ª da Boa Nova de Terena, ermida-fortaleza do séc. XIV (domingo e 2ª feira de Pascoela); e, em estilo rocócó, N.ª S.ª d’ Aires, em Viana do Alentejo, também com uma impressionante colecção de ex-votos na Casa dos Milagres e que, todos os anos pelas festas, é ocasião da maior romaria a cavalo do Alentejo (romaria, 4º fim de semana de Abril; feira, 4º fim de semana de Setembro). Como exemplo de ermida-miradouro, sugerimos-lhe a subida à de N.ª S.ª da Visitação, em Montemor-o-Novo (2 de Julho).


No Baixo Alentejo, veja a Senhora da Represa, na estrada Cuba-Vila Ruiva, com um fantástico interior visitável no dia da sua festa (2ª feira de Pascoela) e através do programa Rota do Fresco N.ª S.ª da Guadalupe, também conhecida por S. Gens, em Serpa, lindíssimo templo de feição mudéjar (de Sexta-Feira Santa à 3ª feira seguinte); N.ª S.ª de Aracelis, junto ao lugar do Salto, S. Marcos da Ataboeira (Castro Verde), um verdadeiro "tecto do mundo” sobre o Sul (1º fim de semana de Setembro); e N.ª S.ª da Cola, entre Ourique e Santana da Serra, integrada no Circuito Arqueológico da Cola, outra razão de peso para visitar o local (7-8 de Setembro).


Finalmente, no Litoral Alentejano, apesar das muitas ermidas que se encontram, sobretudo nas aldeias serranas, o destaque vai para as suas festas religiosas que incluem procissões marítimas ou fluviais em barcos engalanados de pescadores, como são as de N.ª S.ª do Rosário, em Tróia (início de Agosto), N.ª S.ª das Salas, em Sines (14-15 de Agosto) e N.ª S.ª da Graça, em Vila Nova de Milfontes (15 de Agosto).


Nos postos de Turismo encontra os calendários das festas, feiras e romarias de cada localidade. Nos cartazes das que vão acontecer durante a sua estadia, veja com especial cuidado os seus programas musicais e não perca as que incluírem: as "Saias”, danças características do Norte Alentejano; as desgarradas, chamadas "Despique e Baldão”, típicas de alguns concelhos do Baixo Alentejo e do Litoral Alentejano; e a actuação de grupos corais que lhe poderão oferecer a magia do Cante Alentejano.

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